ATA DA QÜINQUAGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 18.10.1988.

 


Aos dezoito dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua qüinquagésima nona Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título de Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Carlos Cunha Contursi, concedido através do Projeto de Resolução n° 31/88 (proc. n° 1390/88). Às dezenove horas e cinqüenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Artur Zanella, 1° Vice-Presidente da Casa; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal; Sr. Carlos Cunha Contursi, Homenageado; Sra. Irene Galante Contursi, Esposa do Homenageado; Dr. Matheus Schmidt, Presidente do Diretório Regional do PDT, representando, neste ato, o Dr. Leonel Brizola; Major José Osmar Gonzales, representando o Comandante da Brigada Militar, Cel. Jerônimo Braga; Dr. Cesar Tadeu da Silva Barlem, Superintendente da Refinaria Alberto Pasqualini; Jorn. Firmino Cardoso, representando, neste ato, o Presidente da ARI, Dr. Alberto André; Jorn. Wilson Muller, representando, neste ato, a RBS; Sra. Neuza Canabarro, Secretária Municipal de Educação;  Ver. Raul Casa, Secretário “ad hoc”. Ainda foram considerados integrantes da Mesa, os Deputados Porfírio Peixoto e Eden Pedroso. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Raul Casa, em nome das Bancadas do PFL e do PDS, discorreu sobre a vida do homenageado, dizendo ser ela pautada por um profissionalismo criador e competente e por uma grande capacidade de fazer e cultivar verdadeiras amizades. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Ver. Artur Zanella a dirigir os trabalhos. Em continuidade, o Ver. Brochado da Rocha, como proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PL e PC do B, comentou a obra jornalística do Homenageado, dizendo que dessa obra depreende-se grande parte da história de nossa comunidade. Registrou, ainda, o transcurso dos cinqüenta anos de trabalho fotográfico do Sr. Carlos Cunha Contursi. Após, o Sr. Presidente convidou o Ver. Brochado da Rocha e o Prefeito Alceu Collares a procederem à entrega, respectivamente, do Título Honorífico de Cidadão Emérito e do Troféu Frade de Pedra ao Sr. Carlos Cunha Contursi, e  concedeu a palavra a S.Sa., que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Pref. Alceu Collares, que saudou o Homenageado. Em prosseguimento, o Sr.Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às vinte horas e trinta e sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Artur Zanella e secretariados pelo Ver. Raul Casa, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª  Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): O primeiro orador inscrito é o Ver. Raul Casa, que está com a palavra em nome das Bancadas do PDS e PFL.

    

O SR. RAUL CASA: Exmo. Sr. Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, querido amigo Carlos Cunha Contursi e sua DD. Esposa, Sra. Irene Galante Contursi.

Os pais são amigos que nos foram impostos pela natureza. Os amigos são irmãos escolhidos por nós. Nos dias de hoje a vida é demasiadamente intensa e a luta pela existência demasiado violenta para que o termo amigo tenha muitos devotos. Sim, há amigos, mas não se cultiva a amizade. Acabaram-se as longas conversas e acabaram-se as grandes cartas entre amigos. Diz-se que Licurgo introduziu na legislação espartana a obrigatoriedade da amizade, cada guerreiro devia escolher entre seus companheiros de armas um amigo que iria combater lado a lado, para protegerem-se, mutuamente, quando um tombava no campo de batalha, o outro transportava, reverentemente, o corpo do amigo para a sua terra natal. A amizade nasce com a estima, assim como desaparece com o desprezo; a amizade implica na confiança. Um amigo não ignora as dificuldades, as alegrias ou as decepções, as lutas e os desejos sob pena de deixar de o ser.

Ao ler-se as anotações sobre a vida de nosso estimado homenageado vemos, que sua vida se pautou de forma indelével por um fato, ele sabe é, e sempre foi amigo de seus amigos, principalmente, de um. O homem não improvisa, a competência implica em vontade e preparação, e em todas as profissões a competência pressupõe aptidão natural, a inteligência e, principalmente, a vocação.

Ao ler-se as anotações sobre a vida de nosso estimado homenageado vemos, que ela se pautou de maneira indelével por outro fato, ele sabe é e sempre foi um profissional competente; a arte tem sua ciência, mas esta nada vale sem a vocação que, no caso do Contursi, é alimentado pelo entusiasmo criador e pelo gosto inato pelo belo. E por ser um homem que sabe acompanhar os amigos e por ser um homem que sabe ser competente no que faz, podemos dizer que o seu êxito pertence a sua vontade, à firmeza de servir com lealdade e eficiência. A maior parte das vezes a sorte não existe. Para ter sorte é preciso ser perseverante. Quando um homem se destaca em talento e virtude, é fácil encontrar o segredo: está na energia de sua vontade. Carlos Cunha Contursi, o nosso querido amigo de tantos e tantos anos, recebe desta Casa, a Casa dos representantes do povo de Porto Alegre, que ele tanto ama e que tantas vezes a divulgou com sua arte para o brasil e o mundo, um título de honra. Por ser líder do meu Partido, o PFL, usei da atribuição que o cargo me confere de designar o orador, sob o protesto afetuoso e lamurioso de colegas como Martim Aranha Filho e Frederico Barbosa que, até agora, não se conformaram do fato de não estarem aqui nesta tribuna. Igualmente o meu querido colega Zanella. Queria e vai, o Zanella, presidir a Sessão daqui a pouco. Por isso, quero aqui dizer que fui democrático, como líder, me escalei. Felicito o autor, o Presidente da Casa, Ver. Brochado da Rocha, orgulho-me de ser amigo do nosso homenageado, orgulho-me d amizade do Antônio Carlos. Felicito a Ângela, homenageio a Da. Irene e que, juntamente com Carlos Fernando, Carlos Eduardo, José Vicente. Fernanda e Carolina, sentem a emoção de ver o pai, o vô, ser proclamado para a glória de nossa Cidade e para a alegria de seus amigos com muita honra Cidadão Emérito de Porto Alegre Carlos Cunha Contursi. Muito obrigado. (Palmas.)

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a dirigir os trabalhos o Ver. Artur Zanella, Vice-Presidente da Casa.

 

O SR. PRESIDENTE (Artur Zanella): É concedida a palavra ao Ver. Brochado da Rocha, autor da Proposição, que falará pelas Bancadas do PDT, PMDB, PC do B e Partido Liberal.

 

O SR. BROCHADO DA ROCHA: Autoridades componentes da Mesa, minhas senhoras e meus senhores, a vida de Carlos Contursi é extremamente rica, quer do cidadão , quer do profissional, quer do militante político que sempre o foi. Nós teríamos que medir qual das vertentes nós poderíamos nestes breves minutos nos dirigir ao homenageado, aos amigos e admiradores do homenageado, aqui presentes. Preferimos uma opção pessoal exatamente nos situarmos sobre o profissional. No nosso trabalho do dia-a-dia, nós costumamos escrever ou falar. O nosso homenageado consagrou sua vida através das lentes de uma máquina, que deveria estar presente com ele neste momento. Toda a sua história, todo o tempo e todas as vicissitudes por que ele passou, todos os atos importantes ocorridos nesta Cidade, nunca escaparam da máquina registradora do nosso homenageado que, antes de ser um profissional, é um poeta, que se exprime através das fotos, Este caminho que escolhemos é porque ele registrou a nossa história durante todo o tempo. Acredito que as várias fotos, quer de cunho artístico, quer de cunho histórico, de Carlos Contursi, que se espalham por este Brasil, dariam para nós a história das últimas quatro décadas. Ele é o homem que personifica uma época do jornalismo brasileiro, onde o improviso, onde sobretudo a capacidade de sobrepujar-se, de avançar sobre a tecnologia e depois assimilar esta própria tecnologia, é, sem dúvida, para nós, um fato que assume especial relevância. A história da nossa Cidade, os atos importantes da nossa Cidade, exatamente, foram registrados por Carlos Cunha Contursi. De longa data ele o faz assim, de tal sorte que não precisaríamos buscar os livros, porque poderíamos apenas buscar os negativos produzidos por ele. Por tudo isto, num pleito de gratidão a Câmara Municipal de Porto Alegre e a Cidade, aqui representada pelo Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares, não poderiam deixar de registrar a passagem dos 50 anos de fotografia de Carlos Contursi e fazê-lo Cidadão Emérito desta cidade. Assim procedendo, a Câmara entende que resgata para si, a sua própria fotografia, a fotografia da cidade para a qual todos nós labutamos e trabalhamos e que, fundamentalmente, é a cidade onde Carlos Contursi partiu para o mundo, para trazer para nós a história, de parte do mundo, a história de grandes acontecimentos, e, sobretudo, a história de nosso País. Por tudo isso, vou quebrar o protocolo, por um minuto, uma palavra só, nosso querido venerando, receba da Câmara Municipal, por unanimidade, do Município de Porto Alegre, do Sr. Prefeito, a homenagem que lhe é devida, e, sobretudo, como exemplo, às gerações futuras que vêem na atividade, tão bem desempenhada pelo nosso homenageado, um exemplo e um estímulo. Por último gostaria de dizer que tive a oportunidade de fazer a consulta derradeira ao nosso homenageado: um homem que tem nas suas veias um sangue artístico, não conseguiu, apesar do seu gênio arrebatado, Ter, através deste longo tempo, um inimigo; ainda há pouco, por derradeiro, perguntava a Carlos Contursi, quantos inimigos você tem? Ele me respondia, “pois não os conheço”, o que é um fato muito singular, tratando-se de uma figura humana tão afetiva, de um lado, mas, por outro lado, tão positiva e tão impositiva nos seus objetivos e desígnios. Por isso, também, em que pese homenagearmos, sobretudo, o profissional, não poderíamos deixar de colocar este fato, um fato singular, de que como é possível, por tanto tempo Carlos Contursi não ter um inimigo. Acho que este ato da Câmara Municipal, respondendo por unanimidade, reitera o que ora afirmo, Carlos Contursi queira receber de nossa parte o nosso afeto e sobretudo o agradecimento desta Cidade a tua pessoa e a tua família. Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

  

O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. Brochado da Rocha que faça a entrega o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Carlos Cunha Contursi. Solicito aos Srs. Presentes no nosso Plenário que assistam este ato em pé.

 

(O Sr. Brochado da Rocha faz a entrega do Título ao Sr. Carlos Contursi.) (Palmas.)

 

Solicito ao Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. Alceu Collares que faça a entrega do Troféu Frade de Pedra ao nosso homenageado, que traduz o apreço da população porto-alegrense, a todas as pessoas que de alguma forma prestam serviço à comunidade. Historicamente, traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da fraternidade e boas-vindas.

Após, o Sr. Brochado da Rocha reassume a Presidência.

 

(O Sr. Alceu Collares faz a entrega do Frade de Pedra ao Sr. Carlos Contursi.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha):  A seguir, com a palavra o novo Cidadão Emérito desta Cidade, Sr. Carlos Cunha Contursi.

 

O SR. CARLOS CUNHA CONTURSI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras Vereadoras, Senhores e Senhoras.

Nenhum de nós estaria aqui se não amasse Porto Alegre, se não tentasse compreender e melhorar a sua realidade. A cada um de nós, a seu modo, coube por livre escolha assumir uma parte dessa realidade. Cada um de nós é de certa forma a cara de Porto Alegre. Esta Casa é o espelho onde nossas diferenças se acentuam na primeira impressão e se desfazem quando nos olhamos melhor. Felizmente.

Na parte que me toca, tento fixar determinados momentos da realidade como meu testemunho pessoal. Através da objetiva, procuro o ângulo, o gesto, o contraste, a luz e sombra,  a solidão e o convívio, a indigência e a opulência, a dor e a alegria, as cenas, enfim, que documentarão uma época. Não pela obsessão pura de testemunhar mas para que o testemunho sirva de alguma forma para conscientizar.

Sr. Presidente, Srs. e Sras. Vereadores, Senhores e Senhoras.

Até aqui falei nas diferenças entre quem homenageia e quem modestamente é homenageado. Falo agora das semelhanças. Carlos da Cunha Contursi, repórter-fotográfico há 50 anos, sempre foi, simultaneamente, político. Minha vontade de participar da política ficou registrada, pela primeira vez, numa ficha de filiação da União Social Brasileira, assinada por meu primeiro líder, Alberto Pasqualini, meu primeiro voto a vereador foi para o hoje proeminente desembargador Bonorino Butelli.

Sempre fotografando, vivendo a correria do dia-a-dia das redações, filiei-me depois ao glorioso PTB. A vivência intensa da política me consumiu madrugadas, me levou à euforia da vitória muitas vezes e à amargura da derrota outras tantas, sem jamais Ter sido, no entanto, candidato a um cargo eletivo.

Em todas as circunstâncias, por dever de ofício e também por gosto, na euforia e na tristeza, sempre estive ligado ao Poder Legislativo. Estava na Câmara de Vereadores do dia 4 de dezembro de 1947, data de sua reinstalação. O mesmo laço me prendeu ano após ano à Assembléia Legislativa, da qual acabei funcionário e me aposentei  após 40 anos de trabalho. Assim como, sempre que as circunstâncias exigiram, transitei pela Câmara dos Deputados e pelo Senado da República.

Assim como me orgulho de ter contribuído, nestas décadas, para registrar a presença da Câmara de Vereadores em muitos episódios históricos, descobri com alegria que, no auge da polêmica partidária, não poderia ter inimigos. O jogo da política é tão importante, tão decisivo, que nada – nem nossas preferências nem nossas aversões pessoais – nos dá direito de ter inimigos.

Da USB e sua Frente Única, do glorioso PTB, entre muitos ensinamentos, colhi um muito importante. O de que os programas, os princípios, a doutrina, precisam de líderes à altura das mensagens que tentam transmitir. É nas lideranças que o povo,. Na sua intuição certeira, verifica a autenticidade das idéias. Por isso estou no PDT, meu líder é Leonel Brizola, de quem tenho a honra de ser também amigo pessoal.

Sei de minhas limitações, reconheço no título de Cidadão Emérito uma condescendência generosa com minhas falhas. Recebo esta homenagem convencido de que ela tem como destinatário real o meu amor por Porto Alegre, a disposição que me leva a contribuir com o pouco que está a meu alcance para que a realidade desta cidade melhore.

Aprendi, ainda, em todos estes anos que minha importância é menor do que imagina quem gosta de mim. Aprendi mais: que nossa verdadeira capacidade, nossa importância verdadeira, real, está  em saber gostar, em gostar do que se faz, de onde se vive, das idéias que defendemos. Em gostar desta cidade, de gostar de quem também gosta dela, de contribuir com minha minúscula parcela para que, no momento da divergência, tenhamos a necessária tolerância uns com os outros, porque Porto Alegre espera e merece isso de nós.

Mais do que uma Sessão Solene, esta reunião é um exercício de convívio, de boa vontade, de compreensão mútua, de prática de um longo, interminável, acidentado curso que todos nós temos feito, para a aprendizagem da democracia. A democracia começa pelo convívio respeitoso, este é o rito primeiro que devemos obedecer. Convívio com respeito.

Srs. Vereadores, meus amigos sabem que a política para mim, a convivência com parlamentares, Deputados, Vereadores é vida para mim. Cada vez que entro numa Casa Legislativa, é como se eu estivesse ganhando mais alguns anos de vida. Muito obrigado. Agradeço a todos os Srs. Vereadores pelo título que me outorgam e agradeço de todo o meu coração a vocês, meus amigos, que aqui compareceram. E agradeço especialmente ao Vereador Brochado da Rocha, que me indicou para este prêmio.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, a Câmara Municipal tem a honra de convidar o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares a fazer uso da palavra.

 

O SR. ALCEU COLLARES: Sr. Presidente, companheiros integrantes da Mesa, companheiros de Partido, Senhoras, Senhores, estamos encerrando mais um dia, uma Sessão Solene, entrega de um título ao companheiro Carlos Contursi, e na permanência dos oradores na tribuna, nós fomos fazendo uma reflexão desta vida arrebatada, vibrante, forte, energética e vigorosa, Contursi.

O Contursi tem apenas os cabelos brancos, mas ainda é um guri. Ontem , na sede do Partido, eu presenciei uma cena do Contursi que só um meninote pode fazer, quem tem vigor e muita energia; em determinado momento ele se incomodou lá com um companheiro e disse: “Olha estou saindo deste negócio, não quero mais isso aqui”.

Ontem à noite já estava lá com aquele que é o maior amigo, maior líder do companheiro Contursi que é o companheiro Brizola.

Eu de manhã o encontrei e disse: Contursi tem que te acalmar, não pode nesta tua fase de juventude desperdiçar tantas energias assim, agir com tanto arrebatamento. Isso significa vida. As pessoas passam, às vezes, pelo mundo de forma inodora, passam a vida em branco. E o Contursi não, ele vive cada momento de sua  própria existência. Vive dedicado a sua família, a sua esposa, filhos, netos. Dedicado ao seu partido. É um dos esteios do nosso partido. Uma das pedras angulares do trabalhismo brasileiro. O Contursi que, com sua máquina, aqui e fora do País tem retratado momentos de grandeza do nosso partido e também momentos difíceis. O Contursi tem milhares de fotografias das nossas lideranças no exílio, trazendo ali, quem sabe, o retrato daqueles que sentindo saudades de sua Pátria, não podiam num determinado momento ingressar nela e outros que, com vida aqui, retornaram após a morte como foi o caso da nossa grande liderança João Goularte. Contursi é uma espécie de uma testemunha viva do desenvolvimento da história do nosso Partido, através da sua dedicação, do seu amor e colaboração. Onde quer que seja e para onde quer que seja chamado, Contursi vai sem encontrar dificuldade nenhuma. Se vai para à Austrália, para à Europa, Estados Unidos, Portugal - tenho a impressão que não foi ainda para Bagé – mas já conheceu o mundo todo, só não conheceu Bagé ainda o que é uma grande carência na vida profissional do companheiro Carlos Contursi. Eu queria em nome do nosso partido, em meu nome certamente dos nossos companheiros Matheus Schmidt  e Brizola dizer ao Contursi que nós vivenciamos este momento com grande emoção, com muita alegria, com enorme desejo de que o Contursi tenha ainda pelo resto de sua existência oportunidade aos milhares de pegar sua máquina e fixar para sempre fotografias que são em grande parte a história do nosso próprio País. Tem um tipo de amizade que o nosso companheiro Casa se referia que nós vamos levando pela vida afora. Encontramos sempre amigos, fazemos amigos e, as vezes, amigos se tornam inimigos, mas há um tipo de amizade que o Contursi cultiva, que é a amizade com o Brizola que nós vamos ter que estudar sob o ponto de vista psicológico. Sobre o Contursi, nenhuma dúvida pode pairar, nem sobre o Brizola, então é amizade pura, amizade verdadeira. E é encantador como o Contursi adora estar perto do Brizola e o Brizola perto dele. Ainda, ontem, quando aconteceu aquele fato que ele queria brigar com o guri, não é brigar, houve um desentendimento, de noite, nós estávamos indo para a televisão Guaíba, e o Brizola disse: e o Contursi? “Aí, eu contei o fato. E o Brizola disse: “Deixa que amanhã ele aparece”. Eu tenho certeza absoluta de que esse não sai mais, entrou definitivamente e para sempre, não apenas por esta amizade com o companheiro Brizola, mas pelas idéias que o Contursi vem defendendo desde que com Pasqualini acompanhou o desabrochar, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento e o crescimento do próprio pensamento trabalhista em nosso País. E nenhum outro companheiro nosso, e nós temos muitos, aqueles que são os alicerces, aqueles que são as pedras angulares do Partido e vamos lembrar alguns com os quais, certamente, o Contursi deve ter tido brigas homéricas: Zé Vechio, Hugo Aranha. Na disputa da amizade com o Brizola, eles devem dar cotoveladas um no outro, mas todos são grandes amigos do nosso companheiro Leonel de Moura Brizola. E o companheiro Contursi, mais do que se escrevesse, mais do que se fizesse poesia, através da lente da sua máquina, tem coisas extraordinariamente belas da história do nosso Partido. Ele, história viva, e, através da sua máquina, fixou fotografias, imagens e cenários que um dia ele há de construir estes 50 anos de atividades como fotógrafo para deixar as suas memórias. Como podem ser as memórias de um fotógrafo? Só podem ser através da fotografia. Ele não vai escrever um livro, ele é um fotógrafo, ele tem que escrever as suas memórias através da fotografia. E sei que, pelos olhos e pela lente da máquina, que é o próprio Contursi, nesta hora, estão passando centenas e milhares de cenas, de paisagens, de cenários, de acontecimentos, de atos e fatos que dão exuberância à vida do Contursi. Se há alguém que vive, e vive com grande vigor a sua existência, este alguém é o Contursi. Por isso, a Câmara de Vereadores faz muito bem, fez muito bem o Brochado da Rocha em conceder-lhe o título de Cidadão Emérito. Por isto, na qualidade de Prefeito de Porto Alegre e, coincidentemente, do mesmo Partido, estou aqui para, em nome da sociedade de Porto Alegre, para dizer: continua a tua existência, dignificando os teus amigos, dignificando a tua profissão e, acima de tudo, elevando a condição de um homem de Partido. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

  O SR. PRESIDENTE: Na qualidade de Presidente da Câmara Municipal e, eventualmente, de Autor da proposta – portanto, suspeito por todas as razões – quero reiterar o apreço desta Casa, o apreço das várias Bancadas para com Carlos Contursi, uma figura singularíssima, como bem enfatizava o nosso Prefeito. Percorri um caminho diferente, pois tive um pouco de medo de contar a história que me ladeou a vida junto de Contursi. Os meus primeiros passos, o princípio de minha vida, foi justamente sob a orientação dele, do seu exemplo. Fiquei muito preocupado com isto, poderia resvalar, se atraído. Mesmo que tivesse escrito, Prefeito, a gente se acostuma a, no momento, jogar o papel e contar um pouco da história.

Mas gostaria de encerrar a Sessão, dizendo que, não só a documentação da Legalidade, que ele registrou em 1961, mas sobretudo a sua postura, naquele ano, é muito significativa e encerra uma das páginas mais bonitas da história do Rio Grande do Sul, e de uma pequena história que um grupo de gaúchos e porto-alegrenses viveram naquela época, e que me deixou, indissoluvelmente, ligado ao meu querido Contursi, porque, realmente, é uma das páginas mais bonitas da história do Rio Grande do Sul, e que nós tivemos a oportunidade de viver, e lá, éramos, de certa forma, guiados por Carlos Contursi. Por todas estas razões, tive muito cuidado em fazer estas colocações, mas creio que é profundamente gratificante à Câmara de Vereadores homenagear o profissional, o político e, sobretudo um homem com um coração enorme. Sou grato a todos os senhores presentes, e ao nosso homenageado, sua senhora, seus familiares.

Dou por encerrada a Sessão.

 

 (Levanta-se a Sessão às 20h37min.)

 

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