ATA DA QÜINQUAGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 18.10.1988.
Aos dezoito dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e
oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal
de Porto Alegre, em sua qüinquagésima nona Sessão Solene da Sexta Sessão
Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título de
Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Carlos Cunha Contursi, concedido através
do Projeto de Resolução n° 31/88 (proc. n° 1390/88). Às dezenove horas e
cinqüenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente
declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao
Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver
Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Artur
Zanella, 1° Vice-Presidente da Casa; Dr. Alceu Collares, Prefeito Municipal;
Sr. Carlos Cunha Contursi, Homenageado; Sra. Irene Galante Contursi, Esposa do
Homenageado; Dr. Matheus Schmidt, Presidente do Diretório Regional do PDT,
representando, neste ato, o Dr. Leonel Brizola; Major José Osmar Gonzales,
representando o Comandante da Brigada Militar, Cel. Jerônimo Braga; Dr. Cesar
Tadeu da Silva Barlem, Superintendente da Refinaria Alberto Pasqualini; Jorn.
Firmino Cardoso, representando, neste ato, o Presidente da ARI, Dr. Alberto
André; Jorn. Wilson Muller, representando, neste ato, a RBS; Sra. Neuza
Canabarro, Secretária Municipal de Educação;
Ver. Raul Casa, Secretário “ad hoc”. Ainda foram considerados
integrantes da Mesa, os Deputados Porfírio Peixoto e Eden Pedroso. A seguir, o
Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa.
O Ver. Raul Casa, em nome das Bancadas do PFL e do PDS, discorreu sobre a vida
do homenageado, dizendo ser ela pautada por um profissionalismo criador e
competente e por uma grande capacidade de fazer e cultivar verdadeiras
amizades. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Ver. Artur Zanella a dirigir os
trabalhos. Em continuidade, o Ver. Brochado da Rocha, como proponente da Sessão
e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PL e PC do B, comentou a obra jornalística
do Homenageado, dizendo que dessa obra depreende-se grande parte da história de
nossa comunidade. Registrou, ainda, o transcurso dos cinqüenta anos de trabalho
fotográfico do Sr. Carlos Cunha Contursi. Após, o Sr. Presidente convidou o
Ver. Brochado da Rocha e o Prefeito Alceu Collares a procederem à entrega,
respectivamente, do Título Honorífico de Cidadão Emérito e do Troféu Frade de
Pedra ao Sr. Carlos Cunha Contursi, e
concedeu a palavra a S.Sa., que agradeceu a homenagem prestada pela
Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Pref. Alceu Collares,
que saudou o Homenageado. Em prosseguimento, o Sr.Presidente fez pronunciamento
alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a
passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os
trabalhos às vinte horas e trinta e sete minutos, convocando os Senhores
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos
foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Artur Zanella e
secretariados pelo Ver. Raul Casa, Secretário “ad hoc”, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores
Presidente e 1ª Secretária.
O SR.
PRESIDENTE (Brochado da Rocha): O primeiro orador inscrito é
o Ver. Raul Casa, que está com a palavra em nome das Bancadas do PDS e PFL.
O SR.
RAUL CASA: Exmo. Sr. Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre, querido amigo Carlos Cunha Contursi e sua DD.
Esposa, Sra. Irene Galante Contursi.
Os pais são amigos que nos foram impostos pela
natureza. Os amigos são irmãos escolhidos por nós. Nos dias de hoje a vida é
demasiadamente intensa e a luta pela existência demasiado violenta para que o
termo amigo tenha muitos devotos. Sim, há amigos, mas não se cultiva a amizade.
Acabaram-se as longas conversas e acabaram-se as grandes cartas entre amigos.
Diz-se que Licurgo introduziu na legislação espartana a obrigatoriedade da
amizade, cada guerreiro devia escolher entre seus companheiros de armas um
amigo que iria combater lado a lado, para protegerem-se, mutuamente, quando um
tombava no campo de batalha, o outro transportava, reverentemente, o corpo do
amigo para a sua terra natal. A amizade nasce com a estima, assim como
desaparece com o desprezo; a amizade implica na confiança. Um amigo não ignora
as dificuldades, as alegrias ou as decepções, as lutas e os desejos sob pena de
deixar de o ser.
Ao ler-se as anotações sobre a vida de nosso
estimado homenageado vemos, que sua vida se pautou de forma indelével por um
fato, ele sabe é, e sempre foi amigo de seus amigos, principalmente, de um. O
homem não improvisa, a competência implica em vontade e preparação, e em todas
as profissões a competência pressupõe aptidão natural, a inteligência e,
principalmente, a vocação.
Ao ler-se as anotações sobre a vida de nosso
estimado homenageado vemos, que ela se pautou de maneira indelével por outro
fato, ele sabe é e sempre foi um profissional competente; a arte tem sua
ciência, mas esta nada vale sem a vocação que, no caso do Contursi, é
alimentado pelo entusiasmo criador e pelo gosto inato pelo belo. E por ser um
homem que sabe acompanhar os amigos e por ser um homem que sabe ser competente
no que faz, podemos dizer que o seu êxito pertence a sua vontade, à firmeza de
servir com lealdade e eficiência. A maior parte das vezes a sorte não existe.
Para ter sorte é preciso ser perseverante. Quando um homem se destaca em
talento e virtude, é fácil encontrar o segredo: está na energia de sua vontade.
Carlos Cunha Contursi, o nosso querido amigo de tantos e tantos anos, recebe
desta Casa, a Casa dos representantes do povo de Porto Alegre, que ele tanto
ama e que tantas vezes a divulgou com sua arte para o brasil e o mundo, um
título de honra. Por ser líder do meu Partido, o PFL, usei da atribuição que o
cargo me confere de designar o orador, sob o protesto afetuoso e lamurioso de
colegas como Martim Aranha Filho e Frederico Barbosa que, até agora, não se
conformaram do fato de não estarem aqui nesta tribuna. Igualmente o meu querido
colega Zanella. Queria e vai, o Zanella, presidir a Sessão daqui a pouco. Por
isso, quero aqui dizer que fui democrático, como líder, me escalei. Felicito o
autor, o Presidente da Casa, Ver. Brochado da Rocha, orgulho-me de ser amigo do
nosso homenageado, orgulho-me d amizade do Antônio Carlos. Felicito a Ângela,
homenageio a Da. Irene e que, juntamente com Carlos Fernando, Carlos Eduardo,
José Vicente. Fernanda e Carolina, sentem a emoção de ver o pai, o vô, ser
proclamado para a glória de nossa Cidade e para a alegria de seus amigos com
muita honra Cidadão Emérito de Porto Alegre Carlos Cunha Contursi. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convido a dirigir os
trabalhos o Ver. Artur Zanella, Vice-Presidente da Casa.
O SR. PRESIDENTE (Artur
Zanella): É
concedida a palavra ao Ver. Brochado da Rocha, autor da Proposição, que falará
pelas Bancadas do PDT, PMDB, PC do B e Partido Liberal.
O SR.
BROCHADO DA ROCHA: Autoridades componentes da
Mesa, minhas senhoras e meus senhores, a vida de Carlos Contursi é extremamente
rica, quer do cidadão , quer do profissional, quer do militante político que
sempre o foi. Nós teríamos que medir qual das vertentes nós poderíamos nestes
breves minutos nos dirigir ao homenageado, aos amigos e admiradores do
homenageado, aqui presentes. Preferimos uma opção pessoal exatamente nos
situarmos sobre o profissional. No nosso trabalho do dia-a-dia, nós costumamos
escrever ou falar. O nosso homenageado consagrou sua vida através das lentes de
uma máquina, que deveria estar presente com ele neste momento. Toda a sua
história, todo o tempo e todas as vicissitudes por que ele passou, todos os
atos importantes ocorridos nesta Cidade, nunca escaparam da máquina
registradora do nosso homenageado que, antes de ser um profissional, é um
poeta, que se exprime através das fotos, Este caminho que escolhemos é porque
ele registrou a nossa história durante todo o tempo. Acredito que as várias
fotos, quer de cunho artístico, quer de cunho histórico, de Carlos Contursi,
que se espalham por este Brasil, dariam para nós a história das últimas quatro
décadas. Ele é o homem que personifica uma época do jornalismo brasileiro, onde
o improviso, onde sobretudo a capacidade de sobrepujar-se, de avançar sobre a
tecnologia e depois assimilar esta própria tecnologia, é, sem dúvida, para nós,
um fato que assume especial relevância. A história da nossa Cidade, os atos
importantes da nossa Cidade, exatamente, foram registrados por Carlos Cunha
Contursi. De longa data ele o faz assim, de tal sorte que não precisaríamos
buscar os livros, porque poderíamos apenas buscar os negativos produzidos por
ele. Por tudo isto, num pleito de gratidão a Câmara Municipal de Porto Alegre e
a Cidade, aqui representada pelo Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares,
não poderiam deixar de registrar a passagem dos 50 anos de fotografia de Carlos
Contursi e fazê-lo Cidadão Emérito desta cidade. Assim procedendo, a Câmara
entende que resgata para si, a sua própria fotografia, a fotografia da cidade
para a qual todos nós labutamos e trabalhamos e que, fundamentalmente, é a
cidade onde Carlos Contursi partiu para o mundo, para trazer para nós a
história, de parte do mundo, a história de grandes acontecimentos, e,
sobretudo, a história de nosso País. Por tudo isso, vou quebrar o protocolo,
por um minuto, uma palavra só, nosso querido venerando, receba da Câmara
Municipal, por unanimidade, do Município de Porto Alegre, do Sr. Prefeito, a
homenagem que lhe é devida, e, sobretudo, como exemplo, às gerações futuras que
vêem na atividade, tão bem desempenhada pelo nosso homenageado, um exemplo e um
estímulo. Por último gostaria de dizer que tive a oportunidade de fazer a
consulta derradeira ao nosso homenageado: um homem que tem nas suas veias um
sangue artístico, não conseguiu, apesar do seu gênio arrebatado, Ter, através
deste longo tempo, um inimigo; ainda há pouco, por derradeiro, perguntava a
Carlos Contursi, quantos inimigos você tem? Ele me respondia, “pois não os
conheço”, o que é um fato muito singular, tratando-se de uma figura humana tão
afetiva, de um lado, mas, por outro lado, tão positiva e tão impositiva nos
seus objetivos e desígnios. Por isso, também, em que pese homenagearmos,
sobretudo, o profissional, não poderíamos deixar de colocar este fato, um fato
singular, de que como é possível, por tanto tempo Carlos Contursi não ter um inimigo.
Acho que este ato da Câmara Municipal, respondendo por unanimidade, reitera o
que ora afirmo, Carlos Contursi queira receber de nossa parte o nosso afeto e
sobretudo o agradecimento desta Cidade a tua pessoa e a tua família. Sou grato.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. Brochado da
Rocha que faça a entrega o Título
Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Carlos Cunha Contursi. Solicito aos Srs.
Presentes no nosso Plenário que assistam este ato em pé.
(O Sr. Brochado da Rocha faz a entrega do Título
ao Sr. Carlos Contursi.) (Palmas.)
Solicito ao Sr. Prefeito Municipal de Porto
Alegre, Sr. Alceu Collares que faça a entrega do Troféu Frade de Pedra ao nosso
homenageado, que traduz o apreço da população porto-alegrense, a todas as
pessoas que de alguma forma prestam serviço à comunidade. Historicamente,
traduz a hospitalidade rio-grandense, uma vez que representa o símbolo da
fraternidade e boas-vindas.
Após, o Sr. Brochado da Rocha reassume a
Presidência.
(O Sr. Alceu Collares faz a entrega do Frade de
Pedra ao Sr. Carlos Contursi.) (Palmas.)
O SR.
PRESIDENTE (Brochado da Rocha): A seguir, com a palavra o novo Cidadão Emérito desta Cidade, Sr.
Carlos Cunha Contursi.
O SR.
CARLOS CUNHA CONTURSI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras
Vereadoras, Senhores e Senhoras.
Nenhum de nós estaria aqui se não amasse Porto
Alegre, se não tentasse compreender e melhorar a sua realidade. A cada um de
nós, a seu modo, coube por livre escolha assumir uma parte dessa realidade.
Cada um de nós é de certa forma a cara de Porto Alegre. Esta Casa é o espelho
onde nossas diferenças se acentuam na primeira impressão e se desfazem quando
nos olhamos melhor. Felizmente.
Na parte que me toca, tento fixar determinados
momentos da realidade como meu testemunho pessoal. Através da objetiva, procuro
o ângulo, o gesto, o contraste, a luz e sombra, a solidão e o convívio, a indigência e a opulência, a dor e a
alegria, as cenas, enfim, que documentarão uma época. Não pela obsessão pura de
testemunhar mas para que o testemunho sirva de alguma forma para conscientizar.
Sr. Presidente, Srs. e Sras. Vereadores, Senhores
e Senhoras.
Até aqui falei nas diferenças entre quem
homenageia e quem modestamente é homenageado. Falo agora das semelhanças. Carlos
da Cunha Contursi, repórter-fotográfico há 50 anos, sempre foi,
simultaneamente, político. Minha vontade de participar da política ficou
registrada, pela primeira vez, numa ficha de filiação da União Social
Brasileira, assinada por meu primeiro líder, Alberto Pasqualini, meu primeiro
voto a vereador foi para o hoje proeminente desembargador Bonorino Butelli.
Sempre fotografando, vivendo a correria do
dia-a-dia das redações, filiei-me depois ao glorioso PTB. A vivência intensa da
política me consumiu madrugadas, me levou à euforia da vitória muitas vezes e à
amargura da derrota outras tantas, sem jamais Ter sido, no entanto, candidato a
um cargo eletivo.
Em todas as circunstâncias, por dever de ofício e
também por gosto, na euforia e na tristeza, sempre estive ligado ao Poder
Legislativo. Estava na Câmara de Vereadores do dia 4 de dezembro de 1947, data
de sua reinstalação. O mesmo laço me prendeu ano após ano à Assembléia
Legislativa, da qual acabei funcionário e me aposentei após 40 anos de trabalho. Assim como, sempre
que as circunstâncias exigiram, transitei pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado da República.
Assim como me orgulho de ter contribuído, nestas
décadas, para registrar a presença da Câmara de Vereadores em muitos episódios
históricos, descobri com alegria que, no auge da polêmica partidária, não
poderia ter inimigos. O jogo da política é tão importante, tão decisivo, que
nada – nem nossas preferências nem nossas aversões pessoais – nos dá direito de
ter inimigos.
Da USB e sua Frente Única, do glorioso PTB, entre
muitos ensinamentos, colhi um muito importante. O de que os programas, os
princípios, a doutrina, precisam de líderes à altura das mensagens que tentam
transmitir. É nas lideranças que o povo,. Na sua intuição certeira, verifica a
autenticidade das idéias. Por isso estou no PDT, meu líder é Leonel Brizola, de
quem tenho a honra de ser também amigo pessoal.
Sei de minhas limitações, reconheço no título de
Cidadão Emérito uma condescendência generosa com minhas falhas. Recebo esta
homenagem convencido de que ela tem como destinatário real o meu amor por Porto
Alegre, a disposição que me leva a contribuir com o pouco que está a meu
alcance para que a realidade desta cidade melhore.
Aprendi, ainda, em todos estes anos que minha
importância é menor do que imagina quem gosta de mim. Aprendi mais: que nossa
verdadeira capacidade, nossa importância verdadeira, real, está em saber gostar, em gostar do que se faz, de
onde se vive, das idéias que defendemos. Em gostar desta cidade, de gostar de quem
também gosta dela, de contribuir com minha minúscula parcela para que, no
momento da divergência, tenhamos a necessária tolerância uns com os outros,
porque Porto Alegre espera e merece isso de nós.
Mais do que uma Sessão Solene, esta reunião é um
exercício de convívio, de boa vontade, de compreensão mútua, de prática de um
longo, interminável, acidentado curso que todos nós temos feito, para a
aprendizagem da democracia. A democracia começa pelo convívio respeitoso, este
é o rito primeiro que devemos obedecer. Convívio com respeito.
Srs. Vereadores, meus amigos sabem que a política
para mim, a convivência com parlamentares, Deputados, Vereadores é vida para
mim. Cada vez que entro numa Casa Legislativa, é como se eu estivesse ganhando
mais alguns anos de vida. Muito obrigado. Agradeço a todos os Srs. Vereadores
pelo título que me outorgam e agradeço de todo o meu coração a vocês, meus
amigos, que aqui compareceram. E agradeço especialmente ao Vereador Brochado da
Rocha, que me indicou para este prêmio.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A seguir, a Câmara Municipal
tem a honra de convidar o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares a fazer
uso da palavra.
O SR.
ALCEU COLLARES: Sr. Presidente, companheiros integrantes da
Mesa, companheiros de Partido, Senhoras, Senhores, estamos encerrando mais um
dia, uma Sessão Solene, entrega de um título ao companheiro Carlos Contursi, e
na permanência dos oradores na tribuna, nós fomos fazendo uma reflexão desta
vida arrebatada, vibrante, forte, energética e vigorosa, Contursi.
O Contursi tem apenas os cabelos brancos, mas
ainda é um guri. Ontem , na sede do Partido, eu presenciei uma cena do Contursi
que só um meninote pode fazer, quem tem vigor e muita energia; em determinado
momento ele se incomodou lá com um companheiro e disse: “Olha estou saindo
deste negócio, não quero mais isso aqui”.
Ontem à noite já estava lá com aquele que é o
maior amigo, maior líder do companheiro Contursi que é o companheiro Brizola.
Eu de manhã o encontrei e disse: Contursi tem que
te acalmar, não pode nesta tua fase de juventude desperdiçar tantas energias
assim, agir com tanto arrebatamento. Isso significa vida. As pessoas passam, às
vezes, pelo mundo de forma inodora, passam a vida em branco. E o Contursi não,
ele vive cada momento de sua própria
existência. Vive dedicado a sua família, a sua esposa, filhos, netos. Dedicado
ao seu partido. É um dos esteios do nosso partido. Uma das pedras angulares do
trabalhismo brasileiro. O Contursi que, com sua máquina, aqui e fora do País
tem retratado momentos de grandeza do nosso partido e também momentos difíceis.
O Contursi tem milhares de fotografias das nossas lideranças no exílio,
trazendo ali, quem sabe, o retrato daqueles que sentindo saudades de sua
Pátria, não podiam num determinado momento ingressar nela e outros que, com
vida aqui, retornaram após a morte como foi o caso da nossa grande liderança
João Goularte. Contursi é uma espécie de uma testemunha viva do desenvolvimento
da história do nosso Partido, através da sua dedicação, do seu amor e
colaboração. Onde quer que seja e para onde quer que seja chamado, Contursi vai
sem encontrar dificuldade nenhuma. Se vai para à Austrália, para à Europa,
Estados Unidos, Portugal - tenho a impressão que não foi ainda para Bagé – mas
já conheceu o mundo todo, só não conheceu Bagé ainda o que é uma grande
carência na vida profissional do companheiro Carlos Contursi. Eu queria em nome
do nosso partido, em meu nome certamente dos nossos companheiros Matheus
Schmidt e Brizola dizer ao Contursi que
nós vivenciamos este momento com grande emoção, com muita alegria, com enorme
desejo de que o Contursi tenha ainda pelo resto de sua existência oportunidade
aos milhares de pegar sua máquina e fixar para sempre fotografias que são em
grande parte a história do nosso próprio País. Tem um tipo de amizade que o
nosso companheiro Casa se referia que nós vamos levando pela vida afora.
Encontramos sempre amigos, fazemos amigos e, as vezes, amigos se tornam
inimigos, mas há um tipo de amizade que o Contursi cultiva, que é a amizade com
o Brizola que nós vamos ter que estudar sob o ponto de vista psicológico. Sobre
o Contursi, nenhuma dúvida pode pairar, nem sobre o Brizola, então é amizade
pura, amizade verdadeira. E é encantador como o Contursi adora estar perto do
Brizola e o Brizola perto dele. Ainda, ontem, quando aconteceu aquele fato que
ele queria brigar com o guri, não é brigar, houve um desentendimento, de noite,
nós estávamos indo para a televisão Guaíba, e o Brizola disse: e o Contursi?
“Aí, eu contei o fato. E o Brizola disse: “Deixa que amanhã ele aparece”. Eu
tenho certeza absoluta de que esse não sai mais, entrou definitivamente e para
sempre, não apenas por esta amizade com o companheiro Brizola, mas pelas idéias
que o Contursi vem defendendo desde que com Pasqualini acompanhou o
desabrochar, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento e o crescimento do próprio
pensamento trabalhista em nosso País. E nenhum outro companheiro nosso, e nós
temos muitos, aqueles que são os alicerces, aqueles que são as pedras angulares
do Partido e vamos lembrar alguns com os quais, certamente, o Contursi deve ter
tido brigas homéricas: Zé Vechio, Hugo Aranha. Na disputa da amizade com o
Brizola, eles devem dar cotoveladas um no outro, mas todos são grandes amigos
do nosso companheiro Leonel de Moura Brizola. E o companheiro Contursi, mais do
que se escrevesse, mais do que se fizesse poesia, através da lente da sua
máquina, tem coisas extraordinariamente belas da história do nosso Partido.
Ele, história viva, e, através da sua máquina, fixou fotografias, imagens e
cenários que um dia ele há de construir estes 50 anos de atividades como
fotógrafo para deixar as suas memórias. Como podem ser as memórias de um
fotógrafo? Só podem ser através da fotografia. Ele não vai escrever um livro,
ele é um fotógrafo, ele tem que escrever as suas memórias através da
fotografia. E sei que, pelos olhos e pela lente da máquina, que é o próprio
Contursi, nesta hora, estão passando centenas e milhares de cenas, de
paisagens, de cenários, de acontecimentos, de atos e fatos que dão exuberância
à vida do Contursi. Se há alguém que vive, e vive com grande vigor a sua
existência, este alguém é o Contursi. Por isso, a Câmara de Vereadores faz
muito bem, fez muito bem o Brochado da Rocha em conceder-lhe o título de
Cidadão Emérito. Por isto, na qualidade de Prefeito de Porto Alegre e,
coincidentemente, do mesmo Partido, estou aqui para, em nome da sociedade de
Porto Alegre, para dizer: continua a tua existência, dignificando os teus
amigos, dignificando a tua profissão e, acima de tudo, elevando a condição de
um homem de Partido. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Na
qualidade de Presidente da Câmara Municipal e, eventualmente, de Autor da
proposta – portanto, suspeito por todas as razões – quero reiterar o apreço
desta Casa, o apreço das várias Bancadas para com Carlos Contursi, uma figura
singularíssima, como bem enfatizava o nosso Prefeito. Percorri um caminho
diferente, pois tive um pouco de medo de contar a história que me ladeou a vida
junto de Contursi. Os meus primeiros passos, o princípio de minha vida, foi
justamente sob a orientação dele, do seu exemplo. Fiquei muito preocupado com
isto, poderia resvalar, se atraído. Mesmo que tivesse escrito, Prefeito, a
gente se acostuma a, no momento, jogar o papel e contar um pouco da história.
Mas gostaria de encerrar a Sessão, dizendo que, não só a documentação
da Legalidade, que ele registrou em 1961, mas sobretudo a sua postura, naquele
ano, é muito significativa e encerra uma das páginas mais bonitas da história
do Rio Grande do Sul, e de uma pequena história que um grupo de gaúchos e
porto-alegrenses viveram naquela época, e que me deixou, indissoluvelmente,
ligado ao meu querido Contursi, porque, realmente, é uma das páginas mais
bonitas da história do Rio Grande do Sul, e que nós tivemos a oportunidade de
viver, e lá, éramos, de certa forma, guiados por Carlos Contursi. Por todas
estas razões, tive muito cuidado em fazer estas colocações, mas creio que é
profundamente gratificante à Câmara de Vereadores homenagear o profissional, o
político e, sobretudo um homem com um coração enorme. Sou grato a todos os
senhores presentes, e ao nosso homenageado, sua senhora, seus familiares.
Dou por encerrada a Sessão.
(Levanta-se a Sessão às
20h37min.)
* * * * *